Você já pensou em criar narrativas a partir de uma lista de supermercado, por exemplo?
Te parece uma ideia impossível ou muito banal?
Pra você, ideias para narrativas têm de ser grandiosas, sublimes ou transcendentes?
Pois vou te dizer que é possível sim criar narrativas bem interessantes partindo do estímulo de uma lista de supermercado e diversos outros tipos de lista. Os dispositivos de escrita criativa são diversos e sempre há mais e mais para serem criados. Muitas das vezes é em nosso cotidiano, aquele que nos parece mais corriqueiro, que encontramos possibilidades para buscar gatilhos de estímulo para nossa escrita criativa.
Existem diversos caminhos. No caso de uma lista de mercado, por exemplo, ela pode tanto ser incorporada na narrativa, como uma lista feita pela narradora ou pela personagem, como ela pode ser um capítulo todinho de uma história que você está escrevendo, ou seja, a lista pode figurar enquanto lista no texto se for um pedido da escrita, como a lista também pode funcionar como disparador de uma narrativa. Podemos a partir de uma inocente lista de supermercado criar uma narrativa superinteressante.
Para escrever não precisamos ir longe, precisamos muitas das vezes abrir o olhar, atentar para o nosso entorno e ler o mundo, sem dividi-lo entre banal e grandioso.
Na oficina de escrita criativa que eu facilito, chamada Escrever o cotidiano, proponho alguns exercícios que se utilizam da lista tanto como possibilidade de ferramenta para a criação de personagens, de motes para uma ideia, de inventário para um texto, como também fazemos nascer de uma lista narrativas superinteressantes que acabam por surpreender as próprias pessoas escritoras.
Geralmente, pelo uso cotidiano, a lista acaba por nos parecer algo pouco literário. Vou deixar aqui três títulos que trazem a ideia da lista em seus textos para que vocês possam perceber as possibilidades de uma lista:
- O pai da menina morta de Tiago Ferro (o romance é volta e meia perpassado por listas que ajudam a movimentar a narrativa e criar efeitos na leitura).
2. Sem vista para o mar de Carol Rodrigues (traz o conto Lista de compras para a festa de Miguel, no qual lista e narrativa vão se entrelaçando de maneira instigante).
3. O livro do travesseiro e Sei Shônagon (um romance todo escrito em listas que quadro a quadro vai nos dando as tintas e o sabor de sua época, a partir do olhar de uma dama da corte no Japão).
Em breve a oficina Escrever o cotidiano vai abrir novas turmas. Se tiver interesse em se inscrever na lista de espera para receber a divulgação é só mandar e-mail para escreverocotidiano@gmail.com demonstrando teu interesse.
Numa próxima eu volto aqui com exemplos de narrativas que surgiram das listas propostas na oficina.
Um abraço.
Marina.