Fiquei bem feliz com a notícia de que Açougueira está finalista do prêmio Minuano de literatura, concedido pelo Instituto Estadual do Livro do Rio Grande do Sul. A lista de finalistas está muito bonita, cheia de gente que admiro.
Que essa oportunidade aproxime mais gente leitora do livro. Esse é o objetivo.
Quinta passada saiu um texto inédito no site Especiaria, que aliás tem uma curadoria muito legal de comentários sobre livros, indicações de obras de diversas linguagens artísticas, prosas e poesias inéditas de quem tá se dedicando à literatura no tempo presente. Recomendo a visita ao site.
Fica aqui também o convite especial para a leitura desse meu exercício de ficção inédito chamado Gavião poeta. Chamo de exercício de ficção inédito por se tratar de um texto que faz parte do projeto de um futuro livro de contos, então tudo nele é movimento e abertura. Se te animar aí, dá uma lida e depois vem aqui me contar? A escrita como um espaço aberto ao movimento e à abertura muito me interessa. Fico grata ao Especiaria pela oportunidade de jogar a escrita na roda.
Vejam que ainda por cima tive a honra de ter uma colagem do grande Léo Tavares ilustrando este texto. O Léo é um artista visual e um escritor de uma preciosidade que não encontro medidas. Recomendo que sigam o Léo no instagram e acompanhem os trabalhos dele. https://www.instagram.com/leotavaresarte/
Tem tempo ando ruminando escrever sobre o gênero ensaio. Das últimas leituras são as que mais têm me entusiasmado. Andei esses meses meio detetive, investigando o motivo. Na ruminação do que escrever me chegou forte o gosto da palavra honestidade. Esse gosto de honestidade tem me seduzido nos ensaios. Uma honestidade na forma, no jeito de conduzir a escrita, sem salamaleques, sem imagens forçadas, sem uma intenção me conduzindo do início ao fim (mesmo que tenha), sem tantas frases para sublinhar. E por isso andei sublinhando várias, inclusive. Porque tudo que é bom é contraditório.
Eu ando com essa cisma. Como leitora e como escritora. Quanto menos frases eu sublinho num livro, tanto melhor. Isso se aplica sobretudo à ficção. Ando detestando quando escrevo frases sublinháveis. Ando virando a cara para os livros que me convocam sublinhar frases belíssimas ou que me fervilham o sangue. Cismei. Cisma é cisma.
É mais que cisma.
Voltemos à honestidade dos ensaios. Ao menos do último que li. Sumário de plantas oficiosas – um ensaio sobre a memória da flora, do Efrén Giraldo, publicado pela Fósforo. De uma beleza simples e livre, como comportam os ensaios, uma fluidez entre pensamentos, conceitos, intimidade, coletividade, memórias, momento presente, vida pessoal, imagens estranhas. E uma dedicação a investigar o caráter estético das plantas. Unindo suas paixões, seus hobbies e obsessões profissionais.
Esse livro me fez pensar em narrar com uma planta. Não tiro mais isso da cabeça. Talvez porque ele tenha afirmado que a narrativa não se presta a isso, não tão bem quanto o poema ou o ensaio. Narrar como planta não é o mesmo que escrever uma narrativa sobre uma planta, ou humanizando uma planta, mas deixar nascer uma narrativa que imana da planta. Giraldo nos diz que a planta é o “invólucro da forma, a linguagem artística que a natureza continua falando para nós”. Desde então nunca mais olhei meu pequenino quintal de apartamento do mesmo jeito. Eu, caçadora de formas para o que escrevo, agora olho as plantas como se elas me sussurrassem a cada segundo novas possibilidades de narrar o mundo. Verdadeiras professoras de estética.
Um abacateiro me ensinou algo sobre a pausa em movimento, um dia desses. Foram tantos meses para brotar, para algo do abacateiro vir à tona, que quase foi dado como morto, ainda bem que confiei no ponto verde que verdejava paciente naquilo que parecia terra arrasada. O danado agora está enorme e com folhinhas desabrochando. Espichou da noite para o dia aos nossos olhos de humanos, embora já viesse há meses num resiliente movimento, um movimento para si mesmo, uma forma secreta e escondida, silenciosa e acontecida como se em pausa. Eis que explodiu a linguagem do abacateiro. Belíssima. As plantas explodem! Giraldo afirma que as plantas são a vanguarda das formas e que a estética lhes pertence.
Desde então tenho lembrado de cada árvore da qual fui amiga. Aquelas das calçadas de Porto Alegre, com seus cachos de uvas fakes. Adorava brincar com suas bolinhas, seus contornos, as sombras frescas que proporcionavam, um encontro a cada passo, uma experiência de amizade coletiva meio flaneur. Lembro do salgueiro-chorão e do flamboyant, árvores de quintais em que morei e que se tornaram amigas e confidentes e parceiras de brincadeira, íntimas, sabiam todos os meus segredos de criança. A memória que tenho delas é como a memória que tenho das minhas pessoas. Chego na bergamoteira que plantei tirando a semente da boca depois de comer uma berga e que agora está aqui atrás de mim, ali no quintalzinho, enquanto escrevo. Minha árvore de apartamento.
Lembro das cismas de não sublinhar frase nos livros. É óbvio que bons livros sempre têm trechos sublinháveis, mas eu peguei para mim isso de que quanto menos as frases de um livro convocam para serem sublinhadas, melhor é a leitura. Um autor que amo é o Faulkner, e não tem quase nenhum sublinhado nos romances que eu já li dele. Conecto isso com a tal intenção de ser literário e escrever coisas bonitas ou citáveis. Acho que é por aí, uma parte do enrosco é por aí, mas é mais que isso, vai além, tem uma bifurcação onde as coisas se separam também. E é justo no outro caminho da bifurcação, aquele que ainda não consigo adentrar, que estão outras questões interessantes.
Mas voltemos ao caminho que por enquanto sei caminhar. Gosto daquelas narrativas, que como as plantas, são sem a intenção de ser. Não que a pessoa escritora não tenha que ter nenhuma intenção, óbvio que não, mas há uma intenção prévia e apontada para um lugar específico que alisa o texto, tirando as suas ranhuras, que busca no texto algo que é de fora dele. Lembro daquele trecho do João Cabral de Melo Neto
“…como domar a explosão
com mão serena e contida,
sem deixar que se derrame
a flor que traz escondida,
e como, então, trabalhá-la
com mão certa, pouca e extrema:
sem perfumar sua flor,
sem poetizar seu poema.”
O bom de escrever como se ensaia, e aqui me refiro ao conceito-prática de ensaio como se costuma utilizar no teatro, é que podemos não saber dizer, escrever como quem toma notas, faz colagens, composições de estados e imagens e recordações e reflexões e conceitos e poemas e desvios. O caminho vai se fazendo no próprio texto e muitas vezes precisamos escrevê-lo mil vezes até que encontremos a chave. A cada ensaio uma camada vai sendo adicionada à coisa. A cada camada uma nova coisa se parindo pelo interior dela mesma.
Tenho acompanhado os processos de “brotagem” (neologismo porque me lembrou brodagem) das plantas e na grande maioria se dão em um parir a partir de si para o mundo. Encurvadas e amassadas elas forçam passagem por caules e folhas mais velhas e despontam o novo. Geralmente nascem em coloração diversa, mais claras e muito lustrosas. Pouco a pouco vão perdendo a curvatura e o amassamento e o brilho. Escurecem. Viram plantas em riste. Se compõem.
Ensaiar é meio assim. Vai-se parindo a obra de dentro da própria obra e cada ato é uma descoberta e um novo ato. Não há uma intenção daquelas sublinháveis, quando há fica evidente e não funciona, o jogo tende a morrer. O gênero ensaio me parece ter uma irmandade com o ensaio-prático, porque reclama a composição, a costura, a camada sobre camada, a mistura de materiais de diversas origens. A cada momento parindo-se de si mesmo. “A lição mais importante que a árvore transmite – talvez a lição moral mais importante que já surgiu na terra, das rochas, dos animais – é a própria lição de imanência do que é, sem a menor preocupação com a opinião ou os gostos alheios, ou seja, com a crítica”. Neste trecho é como se o ato-nascimento das plantas fosse a base de toda a sua vida. Ser, apenas ser como quem nasce de si, sem existir além do ato. E aqui encontro mais uma pista sobre a minha cisma, sobre a narrativa que escapa das frases de efeito, da intenção de provocar algo externamente.
Lendo agora o Palmeiras Selvagens, do Faulkner, nenhuma frase me convoca o lápis, às vezes sublinho uma coisa ou outra pelo estudo e investigação da linguagem, mas não há esse chamado do fascínio do texto. Há, no entanto, uma força lenta e poderosa que se arrasta feito o vento e as águas que compõem o romance, se entranhando na gente, arrastando nossas certezas. É menos espetáculo e mais acontecimento. A narrativa é. Estou há meses lendo esse romance e não me perco, não me afasto das personagens, não esqueço as pulsações da história.
Tem algo aí, né?! Me parece que sim.
Giraldo me provoca quando diz: “A narrativa parece ser capaz de às vezes contar certas histórias sobre plantas, mas é privilégio do poema e do ensaio pensar e ser como planta”. Quero acreditar que a narrativa também pode ser como planta. Imanar. E para isso talvez a pessoa escritora precise se trabalhar e muito, para deixar a narrativa livre para ser, no sentido de parir-se a si, encurvada e amassada sobre si mesma, sair aos poucos, até ficar em riste. Uma tarefa e tanto. Talvez possível de ser alcançada. O mais difícil, quem sabe, seja mesmo o tempo e o silêncio. Meses e meses como se nada acontecesse enquanto tudo acontece num mistério profundo que não dominamos. Ser o próprio tempo. Imanar da narrativa o silêncio e o tempo das plantas é o maior mistério a ser perseguido. Não só em uma narrativa, mas na vida.
E aqui não é o fim desse texto. Talvez nem seu começo. Apenas uma pista. Parece que nada está acontecendo, mas pode ser apenas o tempo de enraizar.
Eu tenho um eterno caso de incômodo com as redes sociais. E esse incômodo passa por diversas camadas. Mas, ossos do ofício, fico sempre atenta à linguagem. Tem uma prática do imperativo nas redes que me deixa muito incomodada.
Já reparou?
“Leiam isso”, “Vejam isso”, “Ouçam isso”.
Sempre me vem aquela clássica imagem estadunidense do Tio Sam, apontando na nossa cara aquele indicador impositivo. Tem uma coisa meio divina, esse dedo que tudo sabe e tudo vê nos mandando uma direção pra olhar, pra (re)agir. Se a gente for pensar que hoje em dia o mercado ocupa como nunca esse lugar divino e se faz essa entidade onipresente, onisciente e onipotente, tudo começa a fazer sentido. As redes sociais são comandadas por homens que são em grande parte donos do mercado, e se camuflam por detrás da metafísica de uma presença que está em todo lugar mas ninguém pode agarrar com as próprias mãos. E, se formos reparar bem, nós trabalhamos direitinho para eles. Nos presentificamos como dedos apontados nas caras uns dos outros, somos pequenos Tios Sam encobertos por cortinas de likes e compartilhamentos.
Isso tudo me lembra a narração onisciente, aquela que tudo vê e tudo tem a dizer sobre as personagens e a elas aponta as direções todas, feito marionetes. E claro que lembra, porque essa narração clássica vem muito daí, desse poder divino, dessa voz universal e neutra que pode falar sobre o mundo como se não tivesse implicações com nada e nem ninguém, nem consigo mesma. É algo sem corpo, sem lugar, sem massa. E já foi imperativo nas escolhas literárias do passado.
A linguagem tem uma importância sem tamanho na literatura e também na vida. Curiosamente vivemos um período no qual as produções literárias tendem a privilegiar os conteúdos em relação à linguagem. O mais importante é o que se conta e não como se conta. O que me intriga é que não há livro sem linguagem, como não há neutralidade política, e as escolhas que fazemos para contar uma história podem ser inconscientes, mas geram sempre consequências para o resultado de uma narrativa. Não há texto sem linguagem, assim como não há texto sem corpo – e aqui faço um paralelo proposital entre linguagem e corpo –, mas tem havido muito texto sem trabalho consciente de linguagem, muito texto sem trabalho consciente de corpo, o que sempre recebo com tristeza, pois é um desperdício imenso essa balança desmesurada pro conteúdo.
Na minha humilde opinião, linguagem faz o conteúdo, e todo conteúdo implica linguagem. Se a gente não se atenta à linguagem com tempo e zelo, muito provavelmente a gente cai nas armadilhas e reproduz linguagens que pululam por aí. Agimos como se pudesse haver separação entre linguagem e conteúdo, ou, pior ainda, como se houvesse jeito cristaliníssimo de ter acesso ao conteúdo de forma pura (cristalino e pura são palavras que abomino, a não ser que estejamos falando de águas paradisíacas, aí eu gosto).
Voltando ao meu caso de terror com as redes sociais – não que tenha deixado de falar dele –, outra prática de linguagem que muito me agonia é o sentido de urgência que se infiltra em qualquer texto ou imagem que nos ofertam nas redes. A própria palavra urgência (junto de necessária) tem sido usada indiscriminadamente, como um carimbo que nos urge as testas.
Todas essas urgências das redes acabam gerando uma urgência tão tão corrida que gera uma leitura corrida e uma reação corrida e uma linguagem corrida e uma experiência de existência corrida. Tudo corre tanto que as urgências viram espectros, feito aquelas fotos esportivas com técnica de longa exposição, que captam o movimento da velocidade passo a passo, gerando imagens fantasmas onde o esportista está e não está ao mesmo tempo.
Estamos e não estamos ao mesmo tempo e urgimos numa linguagem barulhenta e incessante. A pausa não tem sido implicada em nossas línguas que se ramificam pros nossos dedos e punhos regurgitantes de informações e opiniões.
E aí, pensando melhor aqui na técnica da longa exposição, eu sorrio e penso que só a imagem final, a dos espectros, funciona para essa minha analogia. O restante do processo joga muito contra, porque contém em si uma contradição preciosa. Para capturar o movimento da velocidade no mundo é preciso tornar mais lento o processo de abertura do obturador, para que passe maior quantidade de luz por ele. Há na técnica um processo de lentidão e abertura que se perdura, para que depois, na imagem capturada, a velocidade possa ser percebida. E aí me parece o contrário da linguagem das redes, onde a urgência foi associada propositalmente à velocidade, para gerar essa falsa sensação de não termos tempo pra pensar na linguagem que implicamos em nossos conteúdos.
Abrindo um parêntese: no teatro, em peças que temos muitas trocas de figurinos e pouco tempo para fazê-las, uma das primeiras lições que aprendemos é a de não termos pressa. Quanto mais pressa, mais tempo perdemos. Se agimos num senso de urgência que se alinha com a precisão e assertividade e não se confunde com a pressa, aí sim conseguimos fazer a troca sem enredar mãos e cotovelos e dedos e pés em golas e mangas e calças.
Pode ser que eu seja muita maluca, mas sigo achando que tudo passa pela linguagem e não à toa estamos na maior crise de pessoas leitoras dos últimos anos. Não é que não estejamos lendo. Estamos lendo, aliás, estamos lendo o tempo todo, mas estamos tendo acesso quase exclusivo a uma linguagem de imposição e de velocidade, na qual não há tempo a perder (o paradoxo é que estamos todos perdendo totalmente o nosso tempo e depositando o nosso tempo nos bolsos dos homens do mercado, que de deuses nada têm).
Prefiro acreditar que tudo passa pela linguagem. A linguagem das redes sociais nos implica mental e fisicamente nela e na lógica que a movimenta.
Seguindo na minha loucura, fico aqui me perguntando, que tipo de conteúdos estaríamos produzindo se pensássemos mais na linguagem que evocamos? Que tipo de narrativas de vida estaríamos reverberando se nos atentássemos mais para a implicação da linguagem nelas?
Me interessam as perguntas, e talvez perguntar seja uma forma de tecer linguagens mais abertas e disponíveis às transformações.
Será?
O que sei é que as redes sociais nos querem, para que sejamos usados por elas e para que seus verdadeiros proprietários ganhem cada vez mais dinheiro e poder com isso. Não podemos fechar os olhos pro poder da linguagem e como ela é usada a favor dessa nossa implicação no “imperativo” I want you (eu quero você).
E nós, o que queremos?
Ainda queremos querer?
O biriríbororó de hoje é essa minha confusão sobre redes sociais e essa minha paixão por pensar e movimentar a linguagem, tudo de uma forma espontânea e nada técnica (sou fotógrafa amadora e usuária do Google), porque é esse o objetivo de biriríbororózar.
Sem nenhuma urgência, nem necessidade de pensar sobre, mas se quiser pode.
Não sei até que ponto interessa a vocês terem algum tipo de acesso aos meus processos de escrita. Fico pensando que só funcionaria na medida em que eu conseguisse transcender meu próprio umbigo. E não é essa a luta de toda uma vida? Ao menos para aqueles que sentem o umbigo como um calabouço quente, úmido e apertado, que por vezes nos congela e sufoca, começando pelos pés. Eu sinto!
A questão é que estou lendo o livro “A louca da casa”, da Rosa Montero, e a cada página eu grifo algum paradoxo ou tragédia do percurso criativo e traço paralelos com meus processos e tenho vontade de dialogar sobre. E como eu sempre penso que processos criativos servem pra vida, não só dentro de uma sala de ensaio, ou de um caderno de notas, ou de uma tela de pintura…acho que talvez possa funcionar um pouco disso por aqui.
Vamos de copia e cola, ou copia e digita pra ser mais fidedigna:
“Um dia em que eu andava muito desesperada porque o romance que estava escrevendo resistia a mim, Jorge Enrique Adoum, o célebre autor equatoriano, me enviou por e-mail uma eloquente frase que me consolou, fazendo com que eu entendesse melhor a natureza do trabalho narrativo. É dos irmãos Goncourt e diz assim: “A literatura é uma facilidade inata e uma dificuldade adquirida”. E sim, é verdade, é exatamente isso. Suponho que possa ser aplicada a todas as atividades artísticas e não só à literatura, mas, seja como for, é algo que a narrativa cumpre completamente. Todos os romancistas que me interessam lutaram a vida toda contra a facilidade. A construção da própria obra é um esforço constante para escrever da fronteira do que não se sabe. É preciso fugir do que a gente domina, dos lugares-comuns pessoais, do conhecido: “A única influência da qual é preciso se defender é da própria”, dizia com toda razão Bioy Casares. E Rudyard Kipling aconselhava os escritores principiantes: “Assim que vir suas faculdades aumentando, tente alguma coisa que pareça impossível”. Não há nada mais penoso do que um romancista que copia a si mesmo”.
E o capítulo segue interessante, com uma classificação entre escritores porcos-espinhos e raposas, na qual os primeiros são aqueles que ruminam um mesmo assunto por toda a vida e os segundos aqueles mais itinerantes, caçando assuntos diversos ao longo da estrada. A classificação se isenta de valoração. Ambos os tipos de escritores podem fazer grandes livros. Finalizando o capítulo, Rosa Montero decide que talvez o melhor para ser escrito em seu necrológio seria: “Nunca se contentou com o que sabia”.
Lembrei de Sócrates e sua famosa máxima “Só sei que nada sei”, e dessa aproximação entre a escrita literária e a filosofia. Esse despir-se de tudo o que se sabe para que se possa saber mais ou diferente, saber em novas direções aquilo que julgamos já sabido. É um exercício constante que vale pra vida, manter o não-saber como ferramenta metodológica para que se possa saber alguma coisa, um paradoxo necessário, sobretudo em tempos como os nossos, em que o capitalismo anda cada vez mais fantasiado de respostas, receitas, bulas, chaves para o sucesso, segredos para a vida perfeita. Dez passos para escrever o livro que vai virar o bestseller. Ui! Chega a me dar nervoso.
Um trecho que me arrepiou todos os poros do corpo foi quando Rosa conta estar escrevendo um romance que resiste a ela mesma. Pois sim, Rosa, te entendo. Ando em luta com meu novo romance por este exato motivo. Ele resiste a mim. Como criança testando os limites dos pais, o romance me diz não não não não o tempo todo e ainda me mostra a língua encarnada. Joguei 73 páginas fora, estou nele há dois anos, ruminando uma imagem de um filho uma arma e um pai, testei diversas formas narrativas e ritmos de linguagem, encontrei um caminho para a voz de um dos narradores e toda a sua estrutura, encontrei um caminho para a segunda voz narrativa e toda a sua estrutura, a terceira parte do livro –ao menos ainda julgo ser a terceira, o processo é um campo movediço, tudo pode se alterar, e eu posso até ser engolida por ele – tem travado a batalha mais dura, tem sido o corpo mais resistente, porque é justamente nele que tenho sentido medo de saltar no abismo. Medo de ir a um lugar que me é desconhecido, um lugar que acabo julgando menos interessante só pra disfarçar o medo, um lugar para o qual possivelmente eu não estou preparada. E é justamente esse o lugar que o romance me exige: fugir da experimentação e assumir uma terceira pessoa mais corriqueira, que me é muy conhecida como leitora, mas que como escritora poucas vezes eu acesso.
Como eu sou muito fã das dificuldades adquiridas, e sempre trabalho minha jornada de vida no sentido de deixar esse mundo melhor do que encontrei – e isso se refere mais a mim do que ao mundo em si, o que no fim acaba dando no mesmo, se a gente muda o mundo muda um pouco talvez – quando sinto que me adaptei demais, que está tudo muito fácil e simples, que não há atrito ou contradição suficiente, prefiro mudar o rumo e testar novas possibilidades, rio que flui demais talvez não seja mais rio – e por favor, isso não tem nada a ver com aquela frase de instagram que prega a saída da zona de conforto.
Percebam que o corte foi um pouco brusco entre os dois parágrafos acima, porque acabei de admitir em público que fujo da terceira parte do romance justamente porque ela tem me pedido um exercício narrativo que julgo menos interessante, e isso sou eu e minha vaidade e toda a minha tolice e todos os meus temores fugindo do que o romance precisa. Às vezes, a experimentação é justamente seguir pelo caminho mais batido, sem temer o óbvio.
Fechando o divã, a pergunta que me fica é: até que ponto se pode travar uma batalha com o próprio processo? Qual medida se deve dosar ao não saber? Como sentir a hora de bater três vezes no tatame e aceitar a derrota e fazer dela a própria linguagem ou como vencer usando os mesmos truques de sempre, sem sofrer depois achando que a vitória foi menos válida?
Buenas, além do romance estou escrevendo dois livros de contos. Um deles gritou mais alto e pediu o palco. Nesse que gritou mais alto sigo por um caminho já trilhado, mas sempre buscando enxergar os detalhes perdidos na primeira caminhada. Chamo o livro de primo-irmão do meu primeiro livro de contos, porque de novo me interessa exercitar o protagonismo de personagens LBTS, mas o contexto é outro, o ritmo é outro, o exercício de linguagem é outro, porque a escritora é outra, o rio correu, as águas fluíram, por vezes transbordaram, por vezes secaram, noutras vezes se adaptaram à estreiteza das margens, são as mesmas águas, mas formam um novo rio. Então fica a questão, pode uma pessoa escritora repetir a si mesma, sem que esteja se iludindo?
Dando as mãos a outro filósofo, agora a Heráclito: “Ninguém pode entrar duas vezes no mesmo rio, pois quando nele se entra novamente, não se encontra as mesmas águas, e o próprio ser já se modificou. Assim, tudo é regido pela dialética, a tensão e o revezamento dos opostos. Portanto, o real é sempre fruto da mudança, ou seja, do combate entre os contrários”.
O combate entre os contrários é a própria vida, negá-lo talvez seja fechar os olhos para o movimento da existência.
Ui!
biriríbororó é isso, a gente nunca sabe onde vai dar. Me diz aí se alguma pira dessa filosofada de boteco fez sentido pra ti.
Saiu uma resenha bem legal de Açougueira no Le Monde Diplomatique Brasil. Escrita por Bruno Inácio, que além de crítico é também escritor e realizou uma leitura atenta do livrito.
“Assim, o romance de estreia de Marina Monteiro evidencia preconceitos enfrentados diariamente por mulheres, demonstra a hipocrisia do dito cidadão de bem e constrói uma narrativa bem amarrada, em que o enredo e a linguagem têm a mesma importância e originalidade. Uma história polifônica, intimista e incômoda, no melhor sentido da palavra.”
Para ler a resenha completa, clica no link abaixo:
Não sei se o Rio de Janeiro é um lugar que entrega mais personagens ou se eu vejo personagem em tudo. Dia desses saí pra correr na praça, no fim de tarde, calor miserável. Naquelas academias que se dizem da terceira idade, num equipamento desses que simula uma caminhada, uma senhora ia a vinha com passadas curtas de perna. Cabelos compridos e encaracolados, usava óculos, tinha uma expressão de menina doce e um olhar distante. Até aí tudo sem grandes questões. Não fosse o fato de na mão direita ela empunhar uma sombrinha bordô, armada. A senhora balançava as pernocas pra lá e pra cá, debaixo de um sol nada inocente, com a sombrinha em riste e aquela expressão leve, doce e distante. Imagem perturbadora, ao menos pra mim, para tantos apenas uma senhora se protegendo do sol enquanto se exercita.
Fiz questão de olhar uma vez só. Nas outras voltas que dei na pista não retornei meu olhar para ela. Queria ficar com aquela sensação de miragem. Já praticaram isso? Tem coisa que uma segunda olhada estraga. Agora, voltando a lembrar da imagem pra escrever aqui, já sinto como imaginação. Se me transporto para o momento, posso jurar que numa segunda olhadadela ela não estaria lá.
Uma personagem?
Às vezes é cansativo isso de tudo se interconectar feito cena, de toda figura virar personagem. Mas acontece dia sim e outro também. E eu que lute com essa senhorinha doce demais caminhando no equipamento da academia com sua sombrinha armada.
Foto meramente ilustrativa da academia da praça e do aparelho que simula caminhada. A senhora obviamente não consta, porque como disse, escolhi guardar feito miragem.
Essa senhora nem deve saber que veio parar num biriríbororó. Eu mesma não achei que fosse ter um novo biriríbororó, mas fiquei feliz de saber que o anterior animou e aliviou algumas pessoas, pela identificação com meus métodos nada ortodoxos de escrita e com as minhas ranzinzices. É bom saber que a gente não tá sozinha nas biriríbororózices da vida, né?
Essa coisa de falar biriríbororó começou num período de muita exaustão mental e ao mesmo tempo muita história bizarra pra contar pras pessoas amigas. Aí, com preguiça de certos detalhes, eu metia: “Aí, amiga, ela foi lá e biriríbororó…”. Não sei como, mas as pessoas entenderam minhas histórias, ou pelo menos disseram que sim.
E biriríbororó pretende ser esse turbilhão de ideias. Quando eu tiver de reclamar, eu reclamo, quando eu tiver de trocar ideia, eu troco, quando eu tiver de fazer piada, eu faço (sou péssima piadista). Na maioria das vezes as seções vão se misturar e aqui eu farei questão dos detalhes, talvez o biriríbororó que aqui se apresenta seja o oposto do atalho da linguagem que o fez surgir.
Pensando agora, essa explicação deveria constar na primeira edição, mas quem disse que seguimos uma linha do tempo linear, não é mesmo?!
2024, ô aninho ambíguo. Igualzinho a vida é sempre, independente do ano. Igualzinho a literatura, ao menos pra mim, deve ser, embora a literatura não deva nada, muito menos pra mim.
A ponte aqui é pra dizer que não há personagem interessante que seja só boa ou só ruim. Para aí pra pensar. A misturinha de ruindade e bondade e mais um punhado de possibilidades – deboche, ironia, patetice, chatura… – do ser é que dá vida e move a figura na página. Personagem é também espaço, é também ritmo, é também tempo, é corpo, é suor, é voz, é movimento. Uma personagem é também e talvez sobretudo, o vazio. Aquilo que não sabemos dela. As lacunas que se instauram a partir do encontro. Como a senhora de sombrinha no aparelho de ginástica (a ponte também nos traz de volta a ela). O que a torna uma personagem é o que vejo ali no exato momento em que a encontro com o olhar, aquela combinação inusitada de apetrechos, contextos e expressões, mas também tudo aquilo que não vejo e, portanto, passo a inferir. O vazio que habita aquela senhora é o que a transforma com mais força em uma personagem. Personagem essa que agora me assombra.
Tem me incomodado no mundo ultimamente essa necessidade de dizer tudo. O medo do vazio. A gente tem pulado as lacunas. Fingido que elas não existem. Ninguém dá conta de esmiuçar algo ou alguém a partir da palavra. Nada nos é apresentado de forma totalmente preenchida, acessível e límpida. Mesmo que tente parecer. Não há vida, assunto, movimento, pessoa, estrondo que se esgote em explicações e informações. Não saber faz parte disso que somos e talvez seja a distância estabelecida entre nós e o não saber a responsável por nos colocar em tantos apuros. Ouvi dia desses o Roberto Crema dizendo que aquilo que nos torna únicos é a possibilidade de não saber. É aquilo que nos falta que pode nos salvar da normose. Pensando sobre as narrativas literárias, ando sentindo falta da falta nelas também. O vazio é bem-vindo. Não há o que esgotar em um texto ou livro, a não ser a pessoa leitora. Esvaziemos nossas narrativas. Experimentar não mata ninguém.
Nesse sentido, das personagens e das ambiguidades e das lacunas, li alguns bons livros, onde não é possível defender e nem odiar as personagens por completo, não é possível separá-las do espaço, de suas origens, dos outros elementos narrativos de um modo geral, onde não é possível saber tudo sobre elas, tampouco elas o sabem. Personagens que ficam me povoando o corpo, me rondando feito fantasmas, presentes demais. Vou deixar aqui embaixo três títulos que foram muito fortes nesse sentido:
Vento Vazio – Marcela Dantés
Enquanto Agonizo – William Faulkner
O quarto de Giovanni – James Baldwin
Li outros bons livros nesse 2024 e vou compartilhar aqui com vocês. Tem de tudo (conto, romance e poesia), foquei em ficção, li boas não-ficções também, mas aí quem sabe outra hora eu trago pra cá. Por hoje fico com os mundos inventados:
Mau hábito – Alana Portero
Mariconas – Euler Lopes
Os Malaquias – Andréa Del Fuego
Todo mundo tem mãe, Catarina – Carla Guerson
Da costela do impossível – Marcela Alves
Cisne de Vidro – Claudinei Sevegnani
Câmera Escura – Marco Aurélio Corrêa
As despedidas – Carina Bacelar
Todos nós sonhávamos em ser Carmen Miranda – Kaio Phelipe
Li menos do que gostaria em 2024, mas li com mais atenção. Li muita coisa boa, e esbarrei com livros que não me animaram, alguns talvez a questão fosse mais o meu momento, estado de espírito, vai saber. A alguns devo voltar noutra oportunidade. Já tem uns anos que aprendi a abandonar leituras e ficar em paz, para algumas retorno, já outras… Só não é possível fazer isso com as leituras de trabalho. Tem uns livros que ando muito querendo ler, mas por motivo$ múltiplo$ssss$ a hora ainda não chegou. Quem sabe em 2025. Lembrei que tinha uma comunidade no Orkut (o Orkut era muito mais legal que instagram – xófens, pesquisem o que é Orkut, rsrs) que unia pessoas frustradas pela trágica consciência de que jamais teriam tempo de vida o suficiente para ler todos os livros que gostariam. A gente morre e livros seguem sendo escritos e tem coisa mais trágica do que talvez o livro que mais me encantaria na vida ser escrito depois da minha morte? Tristíssimo!!!
Nesse climinha de tragédia literária vou me despedindo. Vou ficando por aqui, nesse suco de bagunça de ideias que virou esse texto. Viva a baguncinha boa. Talvez seja isso um biriríbororó, para além da preguiça de contar a história completa, uma grande bagunça que se faz na lambança de todos os vazios possíveis.
Até 2025, biriríbororóbers (mel dels, marina, menos, bem menos)!
Adoraria trazer pra cá um depoimento sobre meu processo criativo no qual diria que sou muito organizada, faço planilhas, prevejo tudo, me dedico a um projeto por vez. Não é assim que acontece. Agora mesmo tô escrevendo 3 livros ao mesmo tempo (isso depois de um longo bloqueio criativo causado por exaustão, babado que eu deixo pra contar numa possível edição dois dessa coisinha, junto com as 73 páginas do romance novo que eu resolvi “jogar fora” e recomeçar). É isso, ando fazendo exatamente o que eu digo pras pessoas participantes das minhas oficinas, cursos, acompanhamentos de processos literários não fazerem.
Fazer o quê?!
2 livros de contos e 1 romance. Nenhum deles tem muito a ver com o outro. A minha obsessão é investigar formas narrativas e brincar com a linguagem, por isso a cada projeto mudo tudo, conforme o projeto pede. Vez em quando gosto de me reaproximar de movimentos que já experimentei, só pra ver o que sai deles no tempo presente, repito, mas transformado. Acho bonito essas pessoas autoras que se dedicam por anos a um mesmo projeto literário, perseguindo um mesmo tema ou uma mesma forma e linguagem. Queria ser assim. Mas dizem que estilo a gente aceita e lapida, não escolhemos. Gosto de concordar com essa ideia. O que me obceca, mais que conteúdo, é a forma e a linguagem, é pelo exercício estético que eu fico de quatro (embora eu creia mesmo que forma linguagem e conteúdo se fazem muito conectados). E aí, dentro desse jogo, me encanta o movimento, gosto de ir experimentando. Já aceitei que sou menos estável e mais caótica nos processos criativos, o restante da vida é toda tranquila e calma e centrada e vai bem, obrigada (meu olho esquerdo tá tremendo há semanas já).
Respira três vezes e vai.
Não me perguntem se desse mato sai cachorro (é cachorro mesmo que tem que sair? Eu tenho uma questão com ditados populares, erro todos). Não faço ideia de qual livro vai ficar pronto primeiro, se é que algum vai. A cada x de tempo um deles se impõe e pede pra ser tomado por inteiro, eu tomo, escrevo, reviro e aí o outro grita. Aceitei que os 3, de alguma maneira, resolveram me enlouquecer. É um motim.
Uma hora a literatura se vinga.
Vou compartilhar no fim desse post a foto do caderninho de processo de um desses 3 projetos. Um caderninho fofo que esconde o garrancho da minha letra e a bagunça das minhas anotações. Alguns contos inteiros escritos no papel, outros contos criados direto na tela. Fragmentos que, provavelmente, nem vão pro livro. Em alguns projetos, geralmente romances, eu divido os cadernos, um para esboçar cenas e capítulos, outro para anotações e perguntas, algo mais fora do texto. Meus processos não têm nenhum padrão ou regularidade que depois possa servir de estudo para especialistas, caso eu venha a ser uma autora reconhecida – e aqui eu gargalho, porque né, quem sabe depois de morta, só assim com esse mercado literário tão impermeável e previsível. A essa altura de 2024, se o teu livro não estiver na lista de melhores do ano dos portais badalados, nem resenhado nos jornais badalados, se tu não morar em Sampa e não participar das rodas badaladas, já dá pra ter uma ideia que é bem provável uma morte lenta na praia.
Sigo morrendo na praia publicação após publicação, porque eu amo escrever. E porque acredito que a gente tem que transformar a praia, com os zumbis que nela habitam, no verdadeiro centro da festa. Seguimos tentando, e a cada morridinha eu vou tendo encontros maravilhosos, ganhando novas leituras e parcerias, reconhecendo gente mais que generosa, vendo os livros chegarem em lugares que eu não poderia prever e tá tudo bem não serem badalados, a gente precisa reinventar o badalo, inclusive. Quem define?
O meio da literatura é essa montanha russa, a gente ama, odeia, cansa, retoma, acredita, pega puxa estica e vai, tudo isso com os solavancos dilatados pela perversidade do sistema capitalista que parece fazer uma cama bem gostosinha entre as redes que operam no mercado literário. Estamos precisando de mais monstros que saiam debaixo dessas camas e façam tremer o sistema. Buh!
É isso, se meus 3 livros escritos ao mesmo tempo não me enforcarem antes do fim, eu tenho mais três rodadas de morte lenta na praia pra oferecer pro mundo. Há quem talvez se alegre com isso. Vou fingir que sim.
Aqui é a primeira manifestação da escritora cansada que me habita. Espero que gostem. Não prometo que vamos ter uma segunda, mas quem é que sabe… a gente gosta de dar braçadas e colecionar câimbras.
Abraços e obrigada por ler esse biriríbororó que me recuso a chamar de newsletter. (Tô viciada em falar biriríbororó, desculpem).
Curiosidade desse processo é que não tenho usado caneta, apenas lápis e lapiseira.
Alerta de anúncio:
E, ah, lancei um romance, meu primeiro, em junho desse ano, chama AÇOUGUEIRA, não é terror, nem suspense, embora brinque com o suspense e tenha assassinato. Eu disse que eu gosto de brincar com a estrutura narrativa, né, pois bem.
Em Açougueira, a narradora conta seu testemunho de vida e o oferece perante um júri. Essa mulher quieta e observadora espia a vida por uma fresta e vive a vida por uma fresta. “Ir contra Deus, desse jeito, é demais, é ir contra a natureza do homem. Mulher não age assim.” Dizem a ela, e contra deus e tudo, ela segue, abrindo passagens. Neste romance, Marina Monteiro trabalha linguagem e forma de um modo admirável e faz emergir uma história inquietante e polifônica. Natalia Borges Polesso
Se ficar com vontade de saber mais, joga Açougueira nas redes e vai aparecer versão física e digital, inclusive com descontos bons agora nesse final de ano. Querendo com dedicatória fala comigo, tenho exemplares pra venda e também dou aquele descontão.
Agora em novembro, dia 19, facilitei um módulo do workshopp de escrita no Festival Mix Literário – braço literário do Festival Mix Brasil. Juntos, juntas e juntes, pensamos e praticamos sobre espaço, memória, corpo e tempo enquanto elementos que podem trazer o movimento para nossas narrativas literárias. A ideia foi pensar espaço para além da sua funcionalidade, presentificar o corpo na página, incorporar a indomabilidade da memória e brincar com a temporalidade. Nosso encontro recebeu o título de Espacialidade e memória: ressacralizar refúgios e aconteceu no Centro de Pesquisa e Formação do SESC São Paulo. Os outros módulos foram facilitados por grandes figuras de nossa literatura contemporânea: Amara Amoira, Cidinha da Silva. Alexandre Rabelo, João Silvério Trevisan e Marcelino Freire. Imensa honra estar ao lado de tantas pessoas de talento para a escrita, que pensam a literatura para além dos padrões normativos e dentro de um festival tão importante para a cultura LGBTQIAPN+ do Brasil.
Vamos de clichê: existe amor em SP, sim! ❤
Adorei a experiência, já quero mais. Trocar sobre literatura, abrir espaço e atear fogo para que as escritas das pessoas inflamem é sempre uma preciosidade pra mim.
Abaixo um link pra saber um pouco mais do que rolou no festival.